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ETNOGRAFIAS DO CONFRONTO E DA RESISTÊNCIA

DIA 06/11

16-18hrs (Horário de Brasília)

MEDIAÇÃO:

ROSÁRIO CARVALHO

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Maria Rosário de Carvalho é doutora em antropologia Social pela Universidade de São Paulo (USP,/Brasil), professora titular da Universidade Federal da Bahia, bolsista de produtividade de pesquisa 1 do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e coordenadora do Programa de Pesquisas sobre Povos Indígenas do Nordeste Brasileiro (PINEB).  Tem livros e artigos publicados predominantemente na área de etnologia indígena nos contextos etnográficos do Nordeste e Amazônia.

confira a gravação do dia 06/11
Escrevendo um romance da terra: etnografia e recuperação territorial entre os Tupinambá da Serra do Padeiro, sul da Bahia, Brasil
Daniela Fernandes Alarcon

“Se eu soubesse ler, eu ia sentar e escrever tudo que já passou pela gente nessas áreas de retomada.” Desde que os Tupinambá da Serra do Padeiro e eu iniciamos uma relação de pesquisa, há mais de dez anos, escuto com frequência observações como a de dona Maria da Glória da Jesus, recém-referida, que evidenciam a centralidade atribuída à história e à memória no marco da recuperação territorial em curso. Diferentes interlocutores deixaram claro ter um projeto para meu projeto, inscrevendo a pesquisa no processo coletivo de construção da aldeia e de possibilidades de futuro. “Se nós queremos ser realmente essa nação tupinambá”, afirmou o cacique Babau (Rosivaldo Ferreira da Silva) mais recentemente, “ela tem que ser pesquisada profundamente, e nós não vamos parar essa pesquisa nunca: ela é permanente”.

Refletir sobre as possibilidades de alinhamento entre antropólogos e coletividades mobilizadas, a partir de minha experiência junto aos Tupinambá da Serra do Padeiro, é o principal intuito desta comunicação. Manejando a noção de situação etnográfica e examinando em retrospecto nossas interações, descreverei e analisarei alguns caminhos da pesquisa, com atenção a suas implicações teóricas e políticas. Nesse movimento, o território será um dos fios condutores, em função de sua relevância tanto para a atuação tupinambá como para a investigação – a expressão plena de sentidos que figura no título, um romance da terra, foi escolhida por uma de minhas principais interlocutoras, Glicéria Jesus da Silva, para caracterizar minha dissertação de mestrado, o primeiro trabalho monográfico que realizei na Serra do Padeiro.

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Doutora em Antropologia Social pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (MN/UFRJ). Entre 2017 e 2018, foi pesquisadora visitante no LLILAS Benson Latin American Studies and Collections, University of Texas at Austin. Atualmente, é pesquisadora de pós-doutorado na Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz (ENSP/FIOCRUZ). Tem experiência de pesquisa com povos indígenas e ribeirinhos no sul da Bahia e no oeste do Pará. Entre outros livros, em 2019, publicou O retorno da terra: as retomadas na aldeia Tupinambá da Serra do Padeiro, sul da Bahia, a partir de sua dissertação de mestrado, premiada pela Sociedade de Antropologia das Terras Baixas da América do Sul (SALSA). Em 20015, dirigiu o documentário Tupinambá - O Retorno da Terra.

Da ação para o registro: a etnografia, o caminhar, e o tempo da espera
Jurema Machado de Andrade Souza

Desde 1999, quando tem início a minha relação de contato e pesquisa com o povo Pataxó Hãhãhãi, tenho acompanhado o processo de luta pela recuperação das terras da Reserva Indígena Caramuru-Catarina Paraguaçu. Naquele ano, quando comecei a caminhar com eles, as famílias indígenas estavam circunscritas a menos de 3000 hectares de terra dos 54.105 a que tinham direito e que efetivamente conquistaram por meio de ações de retomada, que tiveram início em 1982 e terminaram em 2012. À medida que eu caminhava, e concluía graduação e mestrado, atuava como indigenista e me tornava professora, os Pataxó Hãhãhãi caminhavam com a recuperação e ocupação das terras e com outras lutas emancipatórias relacionadas a ela. Concluída essa etapa de sua atuação, foi o momento de construir a história que iria contá-la. E foi assim que, conjuntamente, sistematizamos, analisamos e categorizamos o processo de luta em ciclos de retomadas, baseados em registros (gravações, imagens e cadernos de campo) sobre os mais variados temas da trajetória do povo, em documentos dos séculos XIX e XX, cartas trocadas entre parentes durante os anos de dispersão, cartas abertas produzidas em momentos específicos e documentos direcionados às autoridades. Acompanhar as retomadas e aguardar o momento de registrá-las foi a estratégia que me foi informada a partir da própria etnografia, que desenvolvo desde 1999, ou seja, caminhar junto a eles e esperar o tempo certo. Nesta comunicação, pretendo refletir sobre essa caminhada como uma etnografia processual e engajada.

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Jurema Machado de Andrade Souza

Antropóloga, professora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, tem graduação e mestrado em Ciências Sociais pela UFBA e doutorado em antropologia pela UnB. É pesquisadora do Programa de Pesquisas sobre Povos Indígenas do Nordeste Brasileiro PINEB/UFBA, do grupo de pesquisas Memórias, Processos Identitários e Territorialidades no Recôncavo da Bahia MITO/UFRB. Entre 2003 e 2008, atuou como indigenista da Associação Nacional de Ação Indigenista-ANAI, de onde é atualmente presidente do conselho diretor.

Repensando minhas etnografias... sobre meus trabalhos acadêmicos
Cristiane Gomes Julião

Racialmente falando, sou indígena. Eu sou Pankararu. Venho e tenho minha história de aprender pela oralidade/ação, a escrita entra em minha vida a princípio, como projeto integracionista da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) ainda no início dos anos 80, aos poucos e hoje com convicção, para me dar mais suporte em minhas atuações políticas, independentemente do lugar ou do assunto/tema. Afinal, tudo é política. Mesmo estando na academia, falar, fazer e escrever ainda me trazem dificuldades e insegurança, pois para mim, a arte da escrita, da oralidade e do fazer precisa ser exposta com muito cuidado pela carga de emoções que despertam, embora sentimentos não estejam sendo literalmente externados, mas estão diluídos nessas exposições. E eu sou muito emocional. No entanto, o não fluir dessas artes não me é impedimento para minhas buscas, pelo contrário, me estimula e me instiga na medida em que eu me envolvo para desenvolver metodologias a partir das provocações que eu mesma me faço; a partir do quanto me inquieta estar quieta; de desconstruir para mim mesma que “zona de conforto” é só para quando estiver cansada e eu espero que demore. Repensar as metodologias que faço uso para minhas etnografias sobre meus trabalhos acadêmicos é uma constante, não tenho um modelo. No entanto, meu ponto de partida além de minhas vivências, são os cinco princípios básicos da geografia e assim, construo minhas produções escritas e orais em minhas ações.

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Cris Pankararu (Cristiane Gomes Julião) Indígena do povo Pankararu, Terra Indígena Pankararu que fica entre os municípios de Tacaratu, Petrolândia e Jatobá, Sertão de Itaparica, Pernambuco. Graduada em Licenciatura Plena em Geografia pelo Centro de Ensino Superior do Vale do São Francisco (2007), município de Belém do São Francisco/PE. Mestre em Antropologia Social pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Dissertação defendida e aprovada em 19 de fevereiro de 2018. Doutoranda em Antropologia Social pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Ingresso em março/2018. Representante indígena pelo Conselho Nacional de Política Indigenista (CNPI) no Conselho de Gestão do Patrimônio Genético, Ministério do Meio Ambiente (CGen/MMA), a partir de 11 de janeiro de 2017.

Pelejas indígenas: conflitos territoriais e dinâmicas históricas na Serra do Catimbau
Lara Erendira A. de Andrade

Em minha tese produzi uma etnografia com uma abordagem temporal de longa duração sobre a presença indígena na região entre os rios Ipanema e Moxotó, tendo como locus ainda mais detido o platô central entre ambos, a Serra do Catimbau, atual território do povo indígena Kapinawá (Pernambuco – Brasil). No final do século XVII, essa região era ocupada pelos povos denominados Paraquêo e Ogoê Goé. No século XVIII, com a política das missões, foi implementado nesse território o Aldeamento do Macaco, e esses povos se juntaram a outros tantos grupos indígenas. A ação do governo colonial alterou significativamente o modo de vida, antes marcado pela mobilidade em busca dos recursos da caatinga, depois restritos pelas cercas e pela substituição das matas pelo pasto. No século XX, no mesmo local, esses povos reivindicaram a identidade indígena kapinawá e o direito às terras que lhes foram doadas no século XIX. O meu argumento é que tais áreas se mantiveram, ao longo de todos esses séculos, sob um certo domínio das famílias indígenas, senão totalmente sob seu controle, pois muitas vezes foram sido invadidas por fazendeiros, conservaram-se nas memórias como áreas pertencentes ao seu território.

Nesta apresentação em específico irei refletir sobre o uso da cartografia na leitura da presença indígena no período mencionado, numa chave que sempre busca observar tempo e o território, as quais chamei de cartoenografias. Penso o uso dos mapas não apenas como resultado, mas igualmente importante como objeto de análise e método de pesquisa.

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Lara Erendira A. de Andrade é doutora em Antropologia (2016-2020) pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), tendo um período de estágio (08/2019-01/2020) no Institut Nationale de la Recherche Scientifique (INRS / Quebec, CA). Tal estágio esteve vinculado ao projeto La justice et les droits des peuples autochtones (JUSTIP), ligado École des hautes études en sciences sociales (EHESS / Paris, FR). Realizou seu mestrado (2012-2014) igualmente em Antropologia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e tem graduação em ciências sociais pela UFPE (2007-2010). 

É antropóloga associada ao Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre Etnicidade (NEPE/UFPE), ao Grupo de Estudos em Território e Identidade (GETI/UFPB), bem como a Réseau de Recherche et de Connaissances Relatives aux Peuples Autochtones (DIALOG/INRS/CA). 

Foi docente vinculada ao cursos de Licenciatura Intercultural Indígena e a especialização na Temática das Culturas e História dos Povos Indígenas pela UFPE (2012 / 2015-2017) e do curso de Antropologia da UFPB (2018-2019). Tem experiência na demarcação de Terras Indígenas e Quilombolas; atua na temática da gestão territorial e ambiental de Terras Indígenas no Nordeste; trabalha na assessoria e consultoria em programas/projetos de formação com professores/as, jovens lideranças e mulheres indígenas. Como resultado desses processos organizou uma série de livros que tem como autores os próprios indígenas (eles podem ser acessados em http://independent.academia.edu/LaraErendiraAndrade)

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